Pimenta e a democracia

A Democracia afoga-nos, subverte-nos, arruina-nos, envenena-nos. Diante dela, a sociedade portuguesa está tolhida, vencida, sucumbida e morta — para toda a energia sã, para toda a acção salvadora. A República? Não. Não é bem a República que nos mata: é a Democracia. A Monarquia? Não será a Monarquia que nos salvará, se vier aliada à Democracia. Porque a Democracia é a antecâmara da Anarquia. A Democracia é a legalização da Desordem, é a organização do Tumulto. A Democracia é a lógica às avessas; é o regime da Multidão, do ninguém se entende, do tudo doido. A Democracia é contra a Pátria, depois de ser contra a Família (…). A Democracia é o caos. A sociedade portuguesa sofre do uso e do abuso da Democracia. Deixaram-se corromper por ela todas as classes, todos os partidos, todas as categorias. A onda democrática bate o seu pleno — desde as mais altas esferas intelectuais até às mais baixas camadas populares. Por isso, a sociedade portuguesa se encontra na fase mais crítica da sua existência, fugindo do poço da lama para que a Democracia a arrasta para ir cair no lago de sangue para que a Democracia a atrai.Todos os aspectos singularmente doentios que a sociedade portuguesa apresenta ao observador,  têm uma origem: a corrupção democrática, a tendência democrática, o preconceito democrático, a sugestão democrática. As castas aristocráticas finam-se por esterilidade. As massas democráticas diluem-se em grosseria e sangue. A Democracia é a mistura, a mestiçagem, a confusão, o tumulto.
Alfredo Pimenta